Comece por onde quiser, do final, do meio, ou do começo, cada programa performático disponível é independente. Contudo, eles possuem algumas relações a partir do agenciamento e da experiência de cada sujeito que os põem em prática. Para desenvolvê-los, nós – Eduardo Bruno e Maria Valdênia – filho e mãe, passamos por um longo período de intercâmbio, troca e aprendizagem, não apenas entre nós, mas também com outras pessoas. Tal proposta surge devido ao fato de que, em muitas famílias, o indivíduo artista é quase como um extraterrestre, ou seja, aquele que ocupa uma outra terra, um outro topos: um heterotópico. No entanto, ao passo em que a relação do artista com seus familiares pode parecer algo descompassado, há também a possibilidade de mudança no cotidiano da família devido à presença de um artista. Partindo de um contexto que parece particular, porém que se ressoa em diversas histórias na relação artista/família, realizamos uma série de criações artísticas entre mãe e filho, dividido não linearmente em três trabalhos e, aqui, apresentados fora de qualquer cronologia do processo.
Dito isto, retomemos ao modo de uso do presente livro-dispositivo-performance. Seu uso é uma provocação, uma performance compreendida tanto no ato de elaboração, quando no ato de por em prática os programas. Cada programa proposto, surgiu de nossos dilemas, encontros, questões do cotidiano e do lugar no mundo de onde partimos. Não tomamos o caminho do ineditismo como percurso, os programas aqui apresentados fazem relação com uma legião de artistas que nos atravessaram ao longo do processo e de nossas vidas. Esperamos que esse livro-dispositivo-performance também consiga criar processos de aproximação e distanciamento com cada um/uma que o ponha em prática, seja na ação de fazer as performances e/ou apenas de imaginar-se fazendo. Bom uso!
Autoria:
Neste livro, Eduardo Bruno; homem, gay, adulto, convida sua mãe - Maria Valdênia: mulher, aposentada e idosa, para juntos comporem esta publicação. 
Nº de páginas: 44
Ano de lançamento: 2021